O mundo pode estar acabando, mas estamos de volta mais uma vez reunindo algumas coisas que foram publicadas por aí sobre este que vos fala.
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Agora disponível online, Nox Insomnia, o mais recente filme de animação de Guy Charnaux, baseado no meu conto Insônia (de Um homem burro morreu). Esta já é a quarta animação de Guy utilizando contos meus. Link para o filme: https://youtu.be/Ozrm4Mn1uI0
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E novamente no Youtube após alguns anos, "Bussiness Meeting", animação do Guy Charnaux feita a partir do meu conto "A opinião de Ponsamoto" (de Um Homem Burro Morreu). Link para o filme: https://www.youtube.com/watch?v=upc6N27hktg
Na revista Piauí, a jornalista Elisangela Roxo comenta sua famosa matéria sobre Caetano Veloso matéria para o portal Terra e cita obras que foram influenciadas por ela, como o meu conto "Caetano Veloso se prepara para a travessar uma rua do Lebon", publicado originalmente na Folha de S. Paulo e depois em Um homem burro morreu.
André de Leones publicou, no final de 2020, uma lista com o que ele considerou serem os melhores livros lançados na última década, colocando Um homem burro morreu dentre as obras.
Em um depoimento para o jornal Cândido, Nelson de Oliveira comenta sobre me incluir em sua futura antologia sobre a geração 2010:
“Nelson
de Oliveira avisa que começou a organizar uma antologia da Geração
2010. Ele colecionou obras literárias brasileiras publicadas durante a
década passada e agora realiza a seleção. A exemplo do que fez nos dois
livros da Geração 90, e também em Geração Zero Zero: Fricções em Rede
(2011), vai escolher autores que têm mais de uma obra publicada. Por
enquanto apenas dois nomes estão, como Oliveira faz questão de
salientar, "garantidíssimos": Aline Bei e Rafael Sperling."
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Em uma série de textos sobre a sua "Pequena byblioteca do LunaLaby" (uma lista de livros formando uma espécie de cânone pessoal), Nelson de Oliveira menciona meus livros Festa na usina nuclear e Um homem burro morreu
Em junho de 2020, Carlos Henrique Schroeder
fez uma lista com alguns de seus livros favoritos de contos lançados
nos últimos vinte anos, e incluiu Um
homem burro morreu dentre as obras mencionadas.
Participei da coletânea de ficção fantástica brasileira Mundo-Vertigem, organizada por Luiz Bras e publicada pela Alink Editora. Participo com o conto Festa na usina nuclear (que faz parte do livro homônimo), republicado agora depois de quase dez anos.
Texto do site da editora:
A coletânea Mundo-vertigem: ficção fantástica brasileira reúne trinta e seis talentos de nossa literatura contemporânea, todos fascinados pelas facetas mais insólitas da existência. Os contos aqui reunidos comprovam que essa nova geração de ficcionistas continua mantendo em altíssimo nível nossa ficção fantástica (às vezes chamada de realismo mágico), gênero impulsionado no século vinte, entre nós, pelos mestres do extraordinário: Murilo Rubião, José J. Veiga, Lygia Fagundes Telles, Victor Giudice, Maria Helena Bandeira, Jamil Snege e outros.
Autores:
Adrienne Myrtes + Alex Xavier + Amilcar Bettega + André Czarnobai + Antonieta Fernandes + Braulio Tavares + Carla Figueiredo Vieira + Carlos Emílio Corrêa Lima + Danielle Martins Cardoso + Eduardo Sabino + Fábio Fernandes + Helen Fadul + HelO Bello Barros + Isabor Quintiere + Ivan Carlos Regina + Ivan Nery Cardoso + João Paulo Parisio + Manoel Herzog + Márcia Barbieri + Marne Lúcio Guedes + Nathalie Lourenço + Nelson de Oliveira + Pádua Fernandes + Patricia Galelli + Rafael Sperling + Regina Junqueira + Rodrigo Garcia Lopes + Romy Schinzare + Rosana Rios + Santiago Santos + Sidney Rocha + Silvia Camossa + Sofia Soft + Tereza Yamashita + Veronica Stigger + Wilson Alves-Bezerra.
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"Vale para nomes nada doces/conciliatórios dos anos 1950/60 e gerações posteriores: do mais óbvio de todos, Dalton Trevisan, que estreou em 1959 e passou as décadas seguintes escrevendo versões de um único e afiado conto, a contemporâneos que gostam de trabalhar com ecos/repetições, como André Sant'Anna (filho de Sérgio), Angélica Freitas e Rafael Sperling."
Texto do Michel Laub sobre João Gilberto e a literatura brasileira, para o jornal Valor Econômico.
Achei curioso que agora o portal Educa Mais Brasil me utiliza como exemplo de sarcasmo e ironia na literatura (ao lado de Eça de Queiroz e Oscar Wilde) em um artigo na seção de Língua Portuguesa:
“No cenário brasileiro, o escritor Rafael Sperling aposta no sarcasmo em sua obra “Um homem burro morreu”, em formato de um livro de contos. No decorrer de 27 contos, o autor destaca elementos irônicos e provocadores nas narrativas inverossímeis, que tornam-se plausíveis no contexto de sarcasmo e ironia.”
O site Os Rabiscos da Geadas utiliza trecho de Amores efêmeros (Festa na usina nuclear) como exemplo do para o "narrador por modo dramático".
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Autor Glauber da Rocha comenta a leitura de Um homem burro morreu.
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Matheus Souza comenta a leitura de Um homem burro morreu
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SaÍ
n’O Globo do dia 18/05/2021 (eu sou o ser branco de camisa quadriculada no lado
direito da foto). Desde o início de 2021 tenho trabalhado como sound
designer para a agência Benext, cuidando da parte de áudio dos voice apps (o que
inclui fazer músicas, efeitos sonoros e gravar/dirigir atores ou
locutores).
Tradução do meu conto "O caminho de volta" (feita pelo Stéphane Chao) na revista francesa Chemin Faisant. O texto não está em nenhum livro meu (ainda).
http://cheminfaisant.eu/tome-17-objets-trouves/
(a revista acabou recentemente, o site saiu do ar)
***
Adaptação que o Guy Charnaux
fez do meu conto O Poeta das Coisas Horríveis (que está incluído no Um
Homem Burro Morreu). Pude acompanhar o processo desde o início, acho que
o resultado ficou fantástico. Há legendas disponíveis em inglês e
português.
O filme foi selecionado para diversos festivais, incluindo o Festival d'Annecy
31/03/17
Conto Éternellement à toi (Eternamente Seu, parte do Festa na Usina Nuclear) traduzido pelo Stéphane Chao, publicado pela Revue L'Ampoule (Éditions de l’Abat-Jour):
A revista francesa D-Fiction publicou uma tradução do meu conto O poeta das coisas horríveis (com tradução do Stéphane Chao). As imagens que ilustram são parte do curta homônimo do Guy Charnaux, que, como diz a publicação, será exibido dia 18 de novembro no Court-Circuit Magazine do canal franco-alemão ARTE.
A revista francesa Le Cafard Hérétique publicou quatro contos de Um
Homem Burro Morreu (Manual básico para, Banho, Subir na mesa e Um homem
burro morreu), em francês e em português, com tradução do Stéphane Chao.
Número 37 da Le Paresseux Littéraire, com versão para o
francês de "Caetano Veloso se prepara para atravessar uma rua do
Leblon", feita pelo Stéphane Chao. As ilustrações são de Étienne Pinault.
***
Pra quem estiver na Europa, agora é possível comprar livros de literatura brasileira pela Capitolina Books. De acordo com a Nara Vidal: "A very original writer, Sperling brings a breath of fresh air through his peculiar, sarcastic, violent, intriguing and talented narrative."
Saíram três continhos meus (de gosto duvidoso, pra variar) nessa nova plataforma luso-brasileira, A Bacana. Agradeço ao Rafael Mantovani pelo convite, que escreveu no Facebook:
"sempre gostei da imaginação perversa, imprevisível e inclassificável do Rafael Sperling — autor de "Jesus Cristo espancando Hitler", "Caetano Veloso se prepara para atravessar uma rua do Leblon", "Um homem chamado Homem" e outros contos futuramente célebres.
agora A Bacana tem o prazer de apresentar, em primeira mão, três dos seus contos curtos de gosto duvidoso.
soluções lógicas e diretas para dilemas da pós-realidade."
Nova adaptação de conto meu pelas mãos do Guy Charnaux! “Business Meeting” foi baseado em “A opinião de Ponsamoto”, que faz parte de Um Homem Burro Morreu.
***
Neste artigo, eu e vários outros escritores falamos sobre técnicas ou
ações que adotamos para estimular a criatividade na hora da escrita:
Descobri por acaso que Um Homem Burro Morreu fez parte da
bibliografia de um artigo acadêmico e de uma tese de mestrado na UFRGS, agora em 2018. O autor,
Luis Felipe Abreu, analisa a relação de “Caetano Veloso se prepara para
atravessar uma rua do Leblon” com a matéria na qual me inspirei para
escrevê-lo, “Caetano estaciona carro no Leblon nesta quinta-feira”,
publicada pelo portal Terra.
Um trecho:
"Há algo na apropriação de Caetano Veloso se prepara para atravessar uma rua do Leblon (SPERLING, 2014)
que cabe uma exploração mais detida aqui, para além de exemplo
paradigmático da ação contracomunicacional. Sibila pelas suas descrições
um rumor, suave, mas insistente, das maquinações míticas: não muito
distante da entrevista com Doria, a persona de Caetano é desvelada por
uma mesquinhez de descrições do cotidiano a atuar em uma suposta
“humanização” da figura pública. Caetano atravessa a rua, come em um
restaurante, usa o banheiro, espera na fila para pagar o
estacionamento... tudo isso exposto em dispositivos de enunciação que
fazem referência à exposição midiática, da referência explícita à
notícia do Terra, decalcada no primeiro parágrafo do texto, em tom de
lide jornalístico, até as perguntas que atravessam o conto de forma
constante, indo indagar e explicitar as opiniões e preferências de
Caetano, em uma voz que poderíamos aqui ouvir no timbre de Amaury Júnior
ou Edwina: “ – Você gosta dessa comida que você pediu, Caetano Veloso? –
Gosto muito” (SPERLING, 2014, p. 8); “ – Como estão as suas vezes,
Caetano Veloso? – Estão ótimas” (SPERLING, 2014, p. 9). A mitificação de
Caetano, como constituída na matéria do Terra, é abordada aqui como a
suplementação de sua figura célebre por um sentido de cotidianidade,
desvelada na reprodução exagerada, hiper-realista, das operações formais
do texto original – retirar dos próprios meios os meios com que
criticá-los, lembrando Pignatari (2004). Há que se lembrar que o próprio
mito é um uso do signo contra o signo, e a demonstração clamorosa desse
parasitismo, como no conto, abre uma fissura no próprio processo,
demonstrando a artificialidade de ambos os signos. Na distância de um
signo a outro em cada texto, e de um texto a outro, constituímos nossa
crítica, para nesse espaço comunicante entender o ruído instaurado.
Caetano Veloso se prepara... (SPERLING, 2014) age diretamente sobre
Caetano estaciona...: quais as implicações disso?"
***
Agora é possível comprar meu livro da Cozinha Experimental pela Blooks ou pelo site da própria editora:
ZF: What draws you to the world of Rafael Sperling?
GC: I've always had a hard time finding fiction writers whose work I
could really connect with, stories that truly resonated within me. The
moment I was presented to Sperling's work I was absolutely dazzled by
how much I could relate to it, his peculiar sense of humour and taste
for the absurd. He seems a bit like a surrealistic Charles Bukowski to me,
as if Bukowski had dropped a bunch of acid, taken a trip to Mars and
started writing. As I read Sperling's texts, the images and ideas for my
films start popping in my head in a very natural manner, I feel
compelled to bring them to life. I'm probably his biggest fan.
(...)
ZF: You have handled poetry and culture, business, relationships, nature and nurture. What is your next endeavor?
GC: A combination of all the most powerful aspects of my previous
works, a truly apocalyptic enterprise. It is going to be another one of
Sperling's stories, one of his most insane texts and my most brutal work
by far. The way I feel about this one is as if I'm about to drop an
H-bomb, and after the dust settles I'll see in which direction do I go.
KRAFT. Sf, Kräfte 1 força, vigor, energia. 2 potência. aus eigener Kraft pelo próprio esforço. außer Kraft sein estar revogado, sem efeito. in Kraft sein estar em vigor.
O livro que estou lançando faz parte da Coleção Kraft, da editora Cozinha
Experimental. A coleção, que começou a ser lançada em 2014, apresenta recolhas
de dez poetas brasileiros estreantes no gênero (sendo a minha a décima,
fechando a coleção). Cada livro conta com dez textos, precedidos por uma
apresentação escrita por algum poeta mais experiente (no meu caso, Marcelo Reis
de Mello, que é também um dos editores da coleção). Assim como os outros, meu
livro foi costurado e encadernado manualmente em papel kraft, em uma edição
pequena e limitada. Após o lançamento, será possível baixá-lo no site da
editora (os outros títulos da coleção já estão disponíveis): http://editoracozinhaexperimental.blogspot.com.br/
A maioria
dos poemas (se é que podemos chamar estes textos assim) foram escritos entre
2009 e 2010 (apenas um é de 2013). São da época em que atualizava semanalmente
meu blog pessoal, Somesentido, e o coletivo do qual participava, Desce Mais Um,
e, portanto, foram originalmente postados nesses espaços. As versões para o
livro sofreram algumas modificações, ainda que preservem o espírito das
originais.
Embora
não sejam exatamente poemas, também não são contos. Foi o que tive em mente
quando submeti meu material à editora: enviar textos que estivessem no meio do
caminho entre as duas coisas. Em sua maioria, poemas disfarçados de contos e
contos disfarçados de poemas (embora alguns como "Coisas Mundanas" e
"Amor Profundo" possam ser considerados poemas mais tradicionais).
Estão
incluídos alguns dos meus textos mais antigos, como "O Sol é o Sol" e
"Poema Redundante", e alguns dos mais radicais/experimentais, como
"Sobre o Holocausto, Ornitorrincos, Receitas e a Economia Chinesa"
(uma espécie de colagem feita a partir de textos retirados da internet e
posteriormente modificados por mim) e "Cenas Cotidianas" (um
exercício de escrita quase oulipiano cuja regra seria escrever a coisa mais
estapafúrdia e sem sentido possível que eu conseguisse).
Por causa
da época em que a maior parte dos textos foi escrita (além da motivação por
detrás deles), a sensação é de se estar lançando não um terceiro livro, mas uma
espécie de livro número zero. Alguns dos textos são contemporâneos ou até
anteriores aos do meu primeiro livro, Festa
na usina nuclear (com o qual o novo dialoga mais do que com o meu segundo, Um homem burro morreu), além de terem
certa aura de brincadeira e de descompromisso total com qualquer coisa, talvez
por nessa época ainda não me ver como escritor (sensação que de certa forma
nunca foi embora totalmente). Vejo Rafael Sperling | Coleção Kraft como uma
amostra variada da minha escrita, um conjunto de experiências e brincadeiras
literárias, provavelmente meu livro mais pessoal e iconoclasta, um retrato de
alguém descobrindo a escrita e se divertindo um bocado enquanto faz isso.
Título: Rafael Sperling | Coleção Kraft
Autor: Rafael Sperling
Páginas: 68
Preço: R$ 25,00
Editora: Cozinha Experimental Para comprar: cozinhaexperimental@hotmail.com
Como fiquei séculos sem postar nada no blog (até ontem), reuni neste mega post tudo que foi publicado sobre meu livro mais recente, Um homem burro morreu. A repercussão foi ótima, com várias resenhas, matérias e entrevistas.
***
Edit: Março/2015
Publicação na Espanha
Um Homem Burro Morreu teve os direitos vendidos para a Espanha, e será publicado pela editora Maresia Libros.
A Gazeta (Vitória/ES) publicou uma matéria matéria escrita por Leandro Reis em 14/07/14 (como não há link, coloquei o texto no final deste post)
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O Estado de Minas publicou uma resenha escrita por André di Bernardi Batista Mendes em 19/07/14 (como não há link, coloquei o texto no final deste post)
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O canal "Vamos falar sobre livros?" fez um video falando do livro:
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O canal Livrogram fez um video falando do livro:
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O canal "Leitor ao acaso" publicou dois vídeos sobre o livro. Um com leitores comentando a leitura, e outro com a leitura de trechos.
2) Em uma matéria sobre contistas, tive a sorte de ser citado pelo André Sant'anna, que respondeu à pergunta "O que ler e por onde começar?" da seguinte forma: “Rubem Fonseca é um ótimo início; ele é um
mestre do conto brasileiro e continua produzindo até hoje – aliás, o
último livro de contos dele, Amálgama, é excelente. Também gosto muito
do Kurt Vonnegut Jr., Jorge Luis Borges, Sérgio Sant’Anna e Rafael
Sperling, um escritor da nova geração.”
Link: http://www.saraivaconteudo.com.br/Materias/Post/58091]
2) Me indicando para participar do Antessala das Letras. Nesse projeto, um escritor já consagrado recomenda um escritor
iniciante. Na publicação, dois contos de Um Homem Burro Morreu e uma
ótima ilustração de Gustavo Malucelli: http://www.antessaladasletras.com.br/dois-contos/
Teve também indicação do Luiz Biajoni em entrevista para a revista Eels
"(Um homem burro morreu)É a coisa mais maluca que você vai ler em língua portuguesa em muito
tempo. São contos surreais, despirocados, escatológicos, uma coisa
horrível mesmo. E, por isso, divertidíssimo." http://www.literatsi.com/entrevista/luiz-biajoni/
***
Melhores do Ano
E fechando o post: Um homem burro morreu chegou a aparecer em algumas listas de "melhores do ano".
(texto das resenhas para A Gazeta e Estado de Minas)
Jornal A Gazeta (Vitória/ES), 14/07/14
Pílulas surreais para um cotidiano absurdo
(por Leandro Reis)
“Um Homem Burro Morreu”, de Rafael
Sperling, provoca riso desconcertante no
leitor
O assunto é tão antigo que Machado de Assis, em 1873, disse
em sua coluna no periódico “Novo Mundo”: “É um gênero difícil, a despeito da
sua aparente facilidade, e creio que essa mesma aparência lhe faz mal,
afastando-se deles os escritores, e não lhe dando o público toda a atenção de
que ele é muitas vezes credor.”
Machado falava dos contos, forma por vezes vilipendiada em favor dos
romances, sobretudo, embora uma nova safra de escritores brasileiros venha
lançando bons livros de narrativas curtas. O carioca Rafael
Sperling é um deles, autor do recém-lançado “Um
Homem Burro Morreu”. A obra, além do “problema” intrínseco sobre o qual falava
Machado, tem em seus tecidos uma suposta barreira: a escatologia. Os contos desse hilário e surpreendente livro viajam por situações
estapafúrdias quase a todo momento, a exemplo de uma história sobre Caetano
Veloso atravessando uma rua do Leblon – episódio corriqueiro que virou foco de
deboche após uma notícia de um site de fofocas sobre o ocorrido –, que aos
poucos se transforma em uma distorção da realidade, mas que parece palpável a
cada linha. Ou, ainda, quando Sperling fala sobre a
perigosa beleza de Branca de Neve, que atrai anões tarados e um príncipe
necrófilo. Pior: uma criança entre os violentos orgasmos de seus genitores.
Pior ainda: um homem tão burro ao ponto de não conseguir ligar a sua torradeira
e, por isso, morrer. “Seria isso motivo para rir? Em geral não, mas por algum motivo as ‘pequenas
tragédias’ alheias têm algo de cômico”, comenta Sperling.
“E por mais que as situações mostradas no livro possam ser absurdas (e muitas
vezes fisicamente inconcebíveis), elas de certa forma emulam o que o nosso
mundo real tem de doente. Enxergamos ali um pouco da nossa vida, só que
transfigurada e distorcida.” Em suma, o surrealismo de Sperling é tão fora
da curva que acaba fazendo sentido em mundo organizado de forma absurda. “Não
que eu ache que o real não possa ainda funcionar como narrativa. Simplesmente
não vejo muito por que narrar num registro muito realista. Fazer o real na
ficção é algo sempre impossível, pois por mais que se aproxime do que chamamos
de real, na verdade será apenas uma versão romanceada da realidade”, diz. Coloquial A linguagem do autor, todavia, é “real”, isto é, não apela para o hermetismo
que a confusão do mundo denota. Sperling é
coloquial, mordaz e não precisa de grandes palavras para descrever grandes
ocasiões. Não há acrobacias com o vernáculo. “Embora as duas coisas andem juntas, na verdade a minha preocupação é muito
maior com a linguagem em si do que com o conteúdo”, explica o autor. “Não que o
conteúdo não seja importante, mas dou mais valor para a maneira de dizer as
coisas, e por isso acho que o que faço tem certa ligação com a poesia.” Nesse sentido, Sperling aproxima o nonsense
do leitor por meio da linguagem ordinária. Por isso, também, “Jesus Espancando
Hitler” e o fétido lar de Dante Alighieri parecem tão comuns a nós. ***
Jornal Estado de Minas, caderno "Pensar", 19/07/14 A burrice não tem fim (por André di Bernardi Batista Mendes) Elogiado por grandes nomes da literatura como João
Gilberto Noll, Marcelino Freire e Paulo Scott, o jovem carioca Rafael Sperling
acaba da lançar, pela Editora Oito e Meio, seu segundo livro, Um homem burro
morreu. Nas 27 narrativas breves da obra, o escritor conduz o leitor por um
ambiente aonde reina o grotesco, a violência extrema, o sexo, o absurdo
cotidiano, a aniquilação. Sperling mostra uma linguagem simples, corajosa,
profundamente melancólica. Os pequenos textos chegam carregados de relâmpagos.
Em “O juiz que queria ser artista plástico”, por exemplo, a narrativa gira em
torno de um meteorito que destrói o mundo, enquanto um juiz de futebol que
gostaria de ter sido artista reflete sobre sua vida. Tudo o que resta da
humanidade após o impacto é a malograda escultura de um atleta que o artista
fracassado pretendia finalizar. Já no conto “Banho”, Rafael atira sua flecha
certeira ao questionar: “Como saber se já terminamos o banho? É difícil
saber se já terminamos de forma satisfatória o banho. Certa vez, um homem
morreu tomando banho: ficou tanto tempo lá dentro que derreteu”. Rafael Sperling está longe de alcançar a
sobriedade, o “estilo”, a fúria nada sutil de um Rubem Fonseca. Mas ele parece
que sabe disso e, o que é melhor, não está nem aí, ele gosta e aproveita
dessa situação para ser ele mesmo, para, meio brincando, malcriadamente
mostrar que, aos poucos, pode também ocupar o seu lugar na literatura
contemporânea. Rafael sabe, como poucos, que o mundo em que vivemos é estranho,
é absurdo demais para flores e floreios. O nosso lugar é, ao mesmo tempo,
incongruente e lírico, feio e bonito, muito mais feio, em certo senti- do, que
bonito. Rafael não tenta conciliações. E é inevitável, em cada texto
Rafael deixa uma certa crítica ácida, instantânea. É justamente no subterrâneo, é no submundo que o
mundo, que a vida propriamente dita acontece de forma mais contundente. É
justamente no subterrâneo, é dos porões que surgem as melhores ideias de
revolução e movimento. É corriqueiro, sementes precisam de água, mas antes
disso as danadas chafurdam, deterioram-se, apodrecem no escuro, com ânsias de
céu e sol. As coisas simples, aquelas que quase não existem,
gozam deste privilégio que só o submundo oferece, de mão beijada. É no
fundo do poço que surgem os melhores sonhos, ou, pelo menos, os mais
verdadeiros. É justamente no subterrâneo que o real ganha ares de realidade,
é ali que ele se sobressai, é ali que o real tem a chance de mostrar a sua
face perversa, a sua face mais dura, que antecede os não menos verdadeiros
traços angelicais que porventura surgem. Bem antes da beleza do jardim existem
abismos de fel e feiura. Partindo desse cenário, Rafael Sperling inventa os
seus contos, mostra “uma visão feroz da experiência de se estar vivo”, como
disse João Gilberto Noll sobre o jovem escritor. Sperling parte do feio, onde
nada é limpo e sustentável, onde quem porventura escreve brinca de garranchos
com o auxílio nada luxuoso dos erros. Toda ironia é furiosa. Ou pelo menos deveria vir
carregada destas demasias, destas destemperanças. Rafael Sperling está no
mesmo barco, no mundo contemporâneo, um lugar que ainda vive cheio de nódoas
num breu de broncas. Tudo que respira conhece de perto a força da violência,
do exagero, do desconcerto. Quem vive morde para ser mordido. É isso que tanto
enxerga Rafael Sperling. “Nunca estamos limpos o bastante”, “todo mundo já
nasce sujo para o mundo”, e chorando horrores. São apenas palavras. Rafael
escreve sentindo o cheiro, escreve diante da assepsia dos banheiros públicos. Rafael percebe um vento que sopra, sempre, para o mesmo
lado. Além da raiva e da tristeza, existem por aí rodas-gigantes e
carrosséis, pensamentos e pouca ação. Rafael escarnece, ri do esforço de
presidentes e presidenciáveis, ri do esforço dos atletas, ri do esforço das
mulheres diante do espelho. Rafael carrega nas tintas e pesa sua mão em cima
de histórias banais, aparentemente banais e sem sentido, histórias de
esporros, raposas e codornas, chás e xícaras, passando pelas fezes do poeta
Caetano Veloso. É impróprio para menores o universo de símbolos e signos
criados por Rafael Sperling. INCERTEZAS Para o filósofo alemão Friedrich Nietzsche, o
sofrimento é, antes de tudo, necessário. Sem ele não há sucesso. Para ele,
existe a montanha e o topo da montanha. E no meio de tudo, nesse périplo de
só subidas, pedras, abismos, circunstâncias, desvantagens. Portanto, não
existe um caminho reto até o céu. Rafael fala sobre tantos desvios. Mas,
contudo, é preciso, é importante imaginar, fabular para descrer dos
malefícios. O Brasil é um país bom para as crianças, é um Brasil de
poetas, engenheiros, professores. É bom imaginar para enganarmos, para não
termos medo de ruas e viadutos, para não termos medo da patuleia. É o medo, é a incerteza que inaugura e fecha, sem
grande estilo, todo ciclo. Ser ou não ser, eis uma pergunta ridícula,
circular, imprópria, boba e desnecessária. É como questionar o lirismo dos
cães, é como questionar a chuva, todos os relâmpagos e principalmente as
intempéries. Ficamos, sempre, ignorantes, muito aquém de tudo, emporcalhados,
com cara do bobo e nariz de palhaço. Por que só as mulheres usam pantalonas? Por que só
elas têm a letra bonita? São perguntas pertinentes que alguns estúpidos, no
fundo do poço, fazem. Mas, contudo, a beleza, existe a beleza, a crueza do
preto e branco, a literatura, os livros, que salvem um tanto bom. Alguns
escritores parecem que já nascem bêbados. Rafael Sperling tomou dos melhores
vinhos. Nascido em 1985, no Rio de Janeiro, Rafael Sperling
é escritor, compositor e produtor musical. Seu primeiro livro, Festa da usina
nuclear, de 2011, também recebeu elogios da crítica especializada. Suas
histórias já foram publicadas em sites, revistas e jornais literários
nacionais e foram traduzidas para o inglês, espanhol, francês, alemão, basco
e catalão.
Sou-me algo.
De fato, um ser.
Ou não (ser).
Não se sabe (eu sei).
Apenas sei que sou (algo).
E que vou (até)
Chegar a compreender.
Mas apenas para sentir.
E ser.
Apenas sê-lo (como)
O ser (Quem é você?)