domingo, 4 de outubro de 2009

A Encenação das Laranjas

Telco e Piló resolveram ir à feira roubar laranja. Combinaram de encenar a morte de Piló, que distrairia a multidão enquanto Telco roubasse as laranjas.


Chegando na feira, Piló inicia a encenação dando um grito agudo e levando as mãos ao peito, enquanto cambaleia derrubando algumas barracas.


A multidão, sensibilizada, resolve acudir Piló. Enquanto a encenação ocorre, Telco caminha até a barraca das laranjas e coloca várias dentro de sua bolsa.


Como a encenação está sendo um sucesso, Telco resolve roubar mais algumas frutas, afinal de contas, já tem gente até ligando para o hospital. Estão todos entretidos com a morte encenada por Piló. Não é todo dia que morre alguém na feira.


Quando sua bolsa começa a ficar pesada demais, Telco resolve dar por terminado o trabalho, e caminha em direção a Piló.


Chegando perto de Piló, Telco lhe diz que já não precisa mais encenar, que ele deve terminar a encenação da maneira previamente combinada.


Mas Piló não responde e Telco entra em pânico, pois percebe que Piló está realmente morto.
Telco chora alto e escandalosamente. Acabara de perder seu parceiro de encenação.


Mas logo em seguida, Piló se levanta e diz que estava apenas encenando. Telco encena que estava apenas encenando também, para que as pessoas em volta acreditassem mais ainda na encenação de Piló. Telco encena uma risada forçada e se vira para as pessoas da feira dizendo que está tudo bem, que Piló estava só brincando. As pessoas da feira, temendo parecerem idiotas por acreditarem na encenação ridícula de Piló, encenam dizendo que estão felizes por Piló não estar morto.


Telco e Piló começam a caminhar para longe da multidão quando o vendedor da barraca de laranjas os chama. O vendedor encena que está achando estranho que todas as laranjas de sua barraca sumiram depois da encenação da suposta morte de Piló. Telco encena rindo e dizendo que não vê nenhuma ligação entre os dois acontecimentos. O vendedor encena que acredita na encenação de Telco e os convida a procurar as laranjas com ele. Telco encena que estão com pressa e que eles não poderão o ajudar. O vendedor, por ser mais fraco e baixo que Telco, encena dizendo que acredita no que ele diz, com medo de enfrentá-lo.


Então o filho do vendedor, que é mais forte do que Telco e Piló juntos, e mais alto do que Telco e Piló um em cima da cabeça do outro, encena que acredita neles. Mas pede para que Telco abra a sua bolsa, mostrando que eles nada tem a ver com o sumiço das laranjas. Telco e Piló encenam um riso forçado e dão tapinhas no ombro do vendedor, dizendo que o filho dele é muito temperamental.


O filho do vendedor começa a ficar nervoso e então Piló encena o abraçando e dizendo que está tudo bem, que eram apenas algumas laranjas. O filho do vendedor, com medo de parecer idiota para o resto das pessoas da feira, encena que está tudo bem e que está gostando do abraço de Piló.


Mas aí, aparecem mais 15 vendedores dizendo que suas frutas também sumiram. Eles não encenam, e dizem acreditar que Telco e Piló são os responsáveis pelo sumiço de todas as frutas. Telco não encena e pede para que todos fiquem calmos, enquanto Piló não encena e diz que está se sentindo mal.


Piló não encena e desmaia de nervosismo. Telco não encena e grita que eles estão matando Piló. Mas os vendedores dizem não acreditar em Telco, pois, pouco antes, Piló estava encenando que morria, e portanto, não havia porque acreditar nele agora.


Telco se desespera e grita que se eles continuarem a acusá-los, Piló irá morrer. É aí que então Piló cai duro no chão. Todos se assustam. Telco examina Piló.


Ele não encena e grita, com lágrimas nos olhos, que eles mataram o seu amigo. Os vendedores encenam e dizem que eles nada tem a ver com o acontecido. Telco pede para que eles o ajudem a levar Piló a um hospital, mas os vendedores encenam que estão com pressa e dizem que não podem ajudar. Telco, por ser mais fraco e em menor número que os vendedores, encena dizendo que acredita no que eles dizem, com medo de enfrentá-los e que descubram que ele realmente havia roubado as laranjas.

(...)

Duas horas mais tarde, em casa, tomando suco de laranja:

-Me assustou, realmente pensei que você tivesse morrido ali.
-Eu também. Às vezes é difícil dizer se algo foi encenado ou não. O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena.

58 comentários:

Nara Sales disse...

"Às vezes é difícil dizer se algo foi encenado ou não. O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não no coração de quem encena. "

UAU. Gostei muitíssimo dessa, Rafael.
Um beijo!

Nara Sales disse...

Em relação ao seu comentário, sim, só tenho 15 anos e como me disseram em relação a meu jeito,"contudo, aprendeu a ser assim".

beijos!

Adriana Riess Karnal disse...

RAfel
gostei desse.Também é surreal como tudo q vc escreve, mas trata do limite entre o q é cena e não, o q se pode e não pode.

Rafa Sady disse...

perfeito. perfeito mesmo, amay *-*
beijinhos ;*

T@CITO/XANADU disse...

Não vou encenar comentário nenhum. Afinal, nem gosto tanto assim de laranjas... (rs)

Larissa Lorena disse...

Até que gosto de encenar, mas não para roubar laranjas rsrsr :)

Unknown disse...

Hhahaahah...nao so muito ligado e laranjas nao..hehehehe......

e nem roubei nada..hahaha

abraços

T disse...

já contou uma mentira que passou a acreditar?

Tatá R. da S. disse...

"Aplausos".
Vi tantos políticos e cia neste texto, sua última frase explica tudo.
Foda, Rafa.
=*

cla. disse...

última frase genial o/

John Rômulo disse...

Rapaz! realamente dessa vez você se superou,eim!
uma cronica ótima que ganhou a simpatia de seus leitores e principalmente a minha!

Obs> a última parte realmente está genial !

Aplausos,meu rapaz

Katrina disse...

Todas as laranjas são permitidas rapaz

E não foi encenação, foi complexo de lázaro mesmo

Marcelo Mayer disse...

obrigado pela visita em meu blog.

e muito bom seus textos, rapaz
odeio ter a mesma opinião de todos, mas neste caso é a mesma... a frase final é inteiramente perfeita.

abraços

Anônimo disse...

' O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena.'

é dar espaço pra mente voar e combustível pro coração sentir. Às vezes eu penso se a vida toda a gente não tá encenando, sabe?

Teena disse...

Hey ! Rafaa '
tudo bom ?

curti muiito seu post '

|sederpassanomeu '


beijos no cérebro :*

Teena disse...

|játoseguindo '

Camila disse...

noossa, muito bom ler iso :)
boa lição de moraal


bejos

Henrique Miné disse...

ksaOKSOaksoaKOSKa

Você é doente! =x

Gostei muito, e, não passa da pura verdade.

Ou da encenação da verdade.

já contou uma mentira que passou a acreditar? [2]

Abraço.

Anônimo disse...

Meu Deus! Você me enganou direitinho heein?!?!?!?! =O
Ameei a história! Muito legal, bem envolvente!


Beeijos!

Rayssa disse...

Opaaa, adoreei a historiaaa.
Mais eu tinha matado os mulequee de raivaa.
UHSiAHS uaHouisa

Beijos, valeu a vizitaaa heeim.

Unknown disse...

nossa, de onde vc tira essas historias?

auhauahauh... beijos..

parece mesmo que a mulher esta com asinhas, uahauhauahahu

Camila disse...

Rá o que mais tem é ator nesse mundo viu!
Alias tem gente que acha que o senado é um grande e caro palco, pois encenam ajudar o país o tempo todo.

Um beijo

Márcia disse...

laranjas é o que há ;)

gabi disse...

é nisso que dar ser ambicioso demais.
pobre é a peste mesmo!!

é por isso que eu só faço o combinado: se era pra roubar 35, só roubo 35, não vou roubar 36 por pura ambição e estragar tudo.
se var fazer, que faça direito, correto?

gabi disse...

ah, duas coisas que esqueci de dizer no outro comentário:

1- você terminou o texto muito sabiamente, me assustam esse lampejos que você tem às vezes. :/

2- vendeu sua alma em troca de um notebook?

Érica disse...

Rafael meu bem, sempre que vejo seu blog atualiazado sei que alguma coisa bastante interessante eu vou encontrar. E diferente dos outro que eu fiquei na mistura de pavor e graça, esse eu achei brilhante. Com moral e um desfecho inesperado. Tú és muito sabido, fico impressionada.
Adorei.
Beijos

Daninha disse...

O desfecho ficou muito bom, gosto de historias assim que terminam de um jeito que ninguem esperava!

Beijos

Ps: Akela branca da foto la no meu blog nao sou eu .-.
A foto era o link da historia que eu escrevi.

Betho Sides disse...

Que encenação hem...Gostei por demais!
Rapaz vim lhe convidar a participar do 1º Encontro Nacional de Blogueiros que vai rolar em Dezembro em SC. + informações no blog:
http://bethosides.blogspot.com/
De uma passada de olhos nas postagens antigas e entenderá tudo, quanto a postagem atual não ligue é apenas desabafo!
Forte Abraço
Betho

Anônimo disse...

gostei muito desse texto viu. uau. :)

Anônimo disse...

oh no. hahaha xx

gcavalcanti disse...

Adorei, tudo bem confesso que senti falta dos acontecimentos bizarros, mas ficou muito bom. (:

Ray Siq disse...

Nossaaa
o máximo esse texto!
super ameii

na vida a gente vive encenando,
é mesmo dificil as vezes saber se é ou não!!!! hahahha adorei

Beijooooo :*

Babih Xavier disse...

Bacana demais essa história
assim como tudo que escreve
gosto de ler as entrelinhas dos seus posts
ahuahuahu

- Lara Alvez disse...

"Às vezes é difícil dizer se algo foi encenado ou não. O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena. " noos ;O
ameii o texto ; parabééns ~*
obrigadaa pelo coment. no meu blog *.*
bjinhos ;*

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

Quando parecer que tudo é real, de fato assim estará a ser, e é aí que a encenação será mais urgente.
Realidade demais sufoca a alma.
Abração da Flor.
Je t'embrasse.
PS.: Toujours je passe par ici, mais seulement aujourd'hui j'ai la courage pour dire quelque chose.

Átila Goyaz disse...

Até agora...não vi um cronista blogueiro melhor que você!

Parabéns cara...vc faz o q da vida hein? qts anos vc tem?

Sucesso pra vc!

Sueli Maia (Mai) disse...

Rafael, sabe o que eu percebo sobre o que você faz? É Arte, cara, arte pura e te explico.
Parece que você escreve num fluxo que sai assim facilmente mas o inovador é que você retrata a natureza humana em verdade e não na suposta 'mentira' da 'encenação' da arte onde tudo fica bem ao final tudo fica bem.

Mostrar o cotidiano como você ousa fazer com a sua escrita é isto. Nem sempre os textos serão agradáveis de se ler ou facilmente compreensíveis porque a lógica que nos foi 'imposta' é de que arte é o 'engodo' da vida o falsear de tudo, onde tudo é imagem e não a verdade nua das ruas.

Então teu texto não é simplesmente criativo porque ele é a realidade das ruas e do falseamento e fingimento das pessoas ao redor de tudo. Arte, não como aprendemos (a beleza a perfeição) é isto, também.

Abraços e de todos os textos que li, até hoje aqui, este foi o que mais gostei.

Marcella Leal disse...

Nossa, você ainda conseguiu filosofar no final! SEU LOUCO! Se a gente se conhecesse é capaz que dariamos bons amigos e poderiamos roubar laranjas na feira =D!

Linda história, tocante amizade a dos dois e me deu uma lição otima: Encene bem.


Obrigada por ser cultura na minha vida.

Beeeijos

Aninha disse...

hsuhsuhuhasuhaus
Adorei esse post... meio engraçado os nomes, o contexto...tudo!
" O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena. "
Frase profunda!
(vlw pela força lah no blog)

bjinhos*/~

Felipe Braga disse...

Bem complexo, adorei.
Criatividade não te falta.
Abraço.

Lu Dantas disse...

É realmente difícil reconhecer a verdade explícita ou a mentira encoberta...ou até mesmo encontrar as suas diferenças...na verdade, pode depender de quem conta...rs

Gostei do texto!

Bjs

Patrícia disse...

muuuuito bom! *.*

Loh_rayne disse...

Às vezes é difícil dizer se algo foi encenado ou não. O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena.


fatão isso !

adoreei o texto :*

The unknown human who sold the world disse...

Vc viu um OVNI? E ele era colorido? rs

Adoro essas laranjas descritas.

Anônimo disse...

Também espirro com papéis amarelados... mas o que importa é a sensação de nostalgia que eles dão :)

DBorges disse...

Gostei!

Quem encena vive a "situação" como se fosse sua verdade.
Finalizou em grande estilo.

Beijos!

tico disse...

gostei MESMO desse post, a arte de encenar nao é para todos, por isso acho que as pessoas usam de má fé (algumas) como esses rapazes. pode parecer absurdo, mas acontece mesmo coisas do tipo...

muito bom o post
abraços

Suzy Carvalho disse...

Uouuu!

adoreii!

Foda man ;)

Anônimo disse...

"O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena."


Eu não enceno, porque eu não sei mentir...=/

Sandra Costa disse...

esse é um dos teus melhores textos, sinceramente. eu fico chocada contigo, tão novo e tão inventivo.

e, pelo pouco que vivi, posso lhe dizer: encenação está sempre nos olhos. seja lá de quem for.

Amanda Leal disse...

Parabéns pelo blog e obrigada pelo elogio!
Beijos

Anônimo disse...

Parabens com seu blog! incrivel seus textos!
beijos

Unknown disse...

eu gosto de laranjas.....pra suco..kaoapka

abraçossss

Aline Melo disse...

eu to bebendo suco de laranja rs

Natália Corrêa disse...

ninguém morreu de verdade ou comeu o próprio vômito? :O
acho que errei de blog. haha

Gostei! teve até moral da história dessa vez! *-*

Carolina disse...

"O limite da encenação ou não-encenação está nos olhos de quem vê, e não na mente de quem encena."
É bem isso aí mesmo. Só é preciso ter cuidado pra não passar a vida encenando... isso é triste.
Um beijo

Ives Nelson disse...

Muito bom rapaz... muito bom mesmo!

Michele Pupo disse...

Este foi o texto mais doido e fascinante que li na blogosfera! Bom mesmo!