quinta-feira, 25 de junho de 2009

Clunsti



Inventei uma nova palavra. Aliás, gosto de inventar coisas. Da uma sensação de poder, sabe? De liberdade. Você é o criador, o Deus. Inventar um texto, uma canção, um novo sentimento, uma ideia nobre. A criação é o momento mais nobre que um ser vivo pode vivenciar em sua inútil vida: Num momento algo não existia; e como mágica, num outro, algo inédito passa a existir.



Pois é.



Clunsti. É essa a palavra. Gostam? Não interessa, pra mim é uma bela palavra. E como, a princípio, apenas eu utilizarei esta, se quiser depois mudo sua grafia para algo que os gramáticos considerarem mais adequado.




Pois bem. Clunsti. O que significa isso? Tudo. Quero dizer, não significa tudo. É uma palavra coringa. Pode-se utilizar quase que em qualquer situação. Por exemplo, como adjetivo: "Este bolo está muito clunsti". Ou como verbo: "Estava a clunstiar, quando fui acertado por uma voadora". Também como adverbio: "Ele acenou clunsti para a multidão enlouquecida de zumbis". Pode parecer estranho, mas também serve como artigo: "Clunsti homem disse para não pararem de vomitar". Mais estranho ainda, como numeral: "Haviam clunsti salgadinhos dentro de seu bolso".



Agora, clunsti também pode ser usado como substantivo: "Peguei o meu clunsti, e olhei para a lareira". Fica bem interessante também como interjeição: "Clunsti! Chegaram os ovos!".



Como nome próprio também fica muito belo: Clunsti Frôscolo Piaubilina (é o nome de meu filho).



Pode ser também um estilo musical. O clunsti é um estilo um tanto híbrido, meio rock, pop, salsa, brega, com um pouco de ópera e de música eletrônica também, sabe?



Além disso é uma profissão. Um clunstiador é uma pessoa numa posição de incomensurável importancia na sociedade. Faz com que as forças sociais se equilibrem, de modo que a força centrípeta social se mantenha igual à força centrífuga política, fazendo assim, com que você, inocente leitor, nem se dê conta do que está acontecendo para que sua vida permaneça assim: monótona. Melhor monótona, do que infernal e inconstante, dum ponto de vista clunstiano, não é? Ah, já ia me esquecendo. Clunsti também da origem a uma linha filosófica, o Cluntianismo. É meio que uma filosofia híbrida, meio niilista, maniqueísta, iluminista, freudiana, darwinista, suicida, só para dar uma ideia superficial.



Também pode ser um esporte. O Clunsti é jogado por um time de 11 jogadores, que devem lançar uma bola bem pequena, como uma de tênis, numa rede, como a de volei, de dentro de um kart que corre num campo parecido com um de golfe. Os quinze juízes ficam espalhados pelo gramado, cada um dentro de seu ringue, que é invadido pelos jogadores quando estes realizam um ippon em seu adversário. No ringue, eles duelam com o juiz, seguindo as regras da bocha. Mas sem utilizar bolas.



Clunsti é também uma comida. Muito boa por sinal. Leva lagostas vivas, açaí pelando, bolo de maracujá, tangerina, carne felina, Trident, bardana e enguia. Talvez tenha me esquecido de algum ingrediente, mas não vai fazer muita diferença no final.




A seguir, teremos um história fictícia, para ilustrar melhor o clunsti:

Clunsti se levantou de manhã. Foi até o banheiro e escovou clunsti os seus dentes, enquanto escutava um canção clunstiana na radio. Era um dia clunsti, não um dia qualquer. Tinha prova final da faculdade de clunsti. Formar-se na faculdade de clunsti era clunsti sonho maior de Clunsti. Abriu a geladeira. "Clunsti! Minha mãe fez clunsti pro almoço!" Pegou um prato e se deliciou com as garfadas de clunsti, enquanto assistia a uma partida de clunsti entre Brasil e Andorra. Depois, leu pela última vez alguns trechos do livro de filosofia clunstiana, para clusntiar a matéria da prova em sua cabeça de clunsti. Antes de sair de casa, clunsti, se banhou. Clunstiou seus cabelos e suas axilas. Urinou clunsti vezes, pois estava apreensivo. Antes de sair de casa, sua mãe lhe lembrou da velha máxima clunstiana:

-Clusnti! Clunsti de clusnti, clusntiar em clunsti que clunsta o clunstiado!




Agora, vocês, leitores, estão devidamente informados. Saiam por aí, e divulguem o clunsti. Tornem o mundo um lugar melhor. Derramem o néctar do clunsti no hipotálamo das pessoas (clunsti também é um hormônio), e em suas genitálias (clunsti também é afrodisíaco).



E por último, nunca, nunca se esqueçam:



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Isso, nunca se esqueçam.


Passar bem.



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sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ela voltou para casa, ora bolas...

Terbonese era uma linda floresta, de árvores muito altas e esquilos saltitantes. No meio da mata, mal se podia ver a luz do sol, que era tampada pela folhagem densa e escura. Os animais viviam em plena harmonia, uma vez que esta era uma mata virgem. Ficava muito distante de qualquer centro urbano, e não existia em nenhum mapa. Isso tornava a região de Terbonese muito especial.

De certa forma ela não existia. Como ninguém sabia de sua existência, era como se ela não existisse, ora bolas.




Mas, enfim. Esqueçamos a linda floresta de Terbonese. Essa história não é sobre ela.




Bordonésio era um boxeador. Desde a mais tenra idade dizia que queria ser boxeador profissional. Os pais estranhavam, nunca haviam visto um menino de 1 ano e meio ficar socando a parede de seu quarto até tirar sangue dos punhos. Na escola era uma peste. Arranjava briga com todos os coleguinhas. Quando ficou mais velho abandonou os estudos para treinar. Mas acabou sendo expulso da academia, pois atacou um de seus colegas por trás, na frente de seu treinador. Sua mania de brigar foi piorando até que se tornou mendigo. Mendigava e batia nas pessoas pela rua. Principalmente nas velhinhas. Mas é claro! Elas nunca davam esmola.




Mas, enfim, Bordonésio não importa. Essa não é uma história sobre ele.




Havia uma fábrica de lâmpadas na região dos alpes de Heurgoistein. Era uma fabrica muito antiga, alguns diziam que datava do século IV A.C., apesar de ainda não existirem lâmpadas nessa época. Essa fábrica foi muito importante ao longo da história. Muitos nobres, reis, ditadores e terroristas compraram lâmpadas fabricadas lá. Além disso, seus cientistas lamparínicos contribuíram muito com a tecnologia lampadal que temos hoje. Devemos muito a eles. Devíamos rezar todos os dias agradecendo às suas noite em claro, tentando elevar o nível de iluminação da humanidade. Bom, eu faço isso. Se você não faz devia passar o resto dos seus dias no escuro, pra ver o que é bom.




Mas isso é de importância ínfima. Essa história não é sobre a fábrica de Heurgoistein.




Certo dia estava tomando suco de laranja. Me deliciava com ele. Fazia com que minhas papilas gustativas aproveitassem ao máximo cada gota desse sagrado néctar. A cada gole meus olhos se enchiam d'água, por causa da emoção do beber. Eu ficava ali. Horas. Apenas tomando suco de laranja. O que pode ser melhor do isso? Sexo? Talvez. Mas sexo não tem gosto de suco de laranja. É uma pena. Quando ia tomar o último e melhor gole do meu vigésimo sexto copo de suco de laranja do dia 3 de Abril de 2014, minha cozinheira me interrompeu:

"Tem um homem na porta. Ele que falar com você. Parece irritado"

Estranhei. Nunca convido ninguém para minha casa na Hora de Degustação de Suco de Laranja. Tomei o último gole do copo e levantei da Cama Degustativa.

Caminhei pelos corredores, ou melhor, fui caminhado pela casa. Havia instalado o novo sistema de chão rolante, para não ter que ficar caminhando, gastando minhas juntas. Chegando na porta deparei-me com um homem feio, sujo e fétido que ficava pulando de um lado para o outro como se estivesse num ringue de box.

-Boa tarde, poderia me arranjar uma esmola ou um pouco de comida?

-Por que logo eu? Essa vizinhança é enorme.

-Tens uma bela casa.

-A do vizinho é maior.

-(Olha) É, tem razão. Mas a sua é mais chique que a dele. Logo imaginei que tivesse mais grana.

-O que o fez pensar isso?

-Bom, é simples. Não é todo mundo que tem luminárias germânicas no jardim. Muitos menos com lâmpadas originais da grife de Heurgoistein.

-Hum, vejo que tens alguma cultura. Não é qualquer um que reconhece uma delas. Como te chamas?

-Bordonésio.

-Oh! Mas que lindo nome. Meu filho também se chama Bordonésio. Queira entrar, por favor.



Bordonésio se banhou e comeu. Depois conversamos sobre variedades, ele se mostrou um homem muito culto.

-Como um mendigo pode ser tão culto?

-Não sou um mendigo qualquer. Por ser um mendigo altamente anti-social, resolvi caminhar intermitentemente em linha reta, saindo aqui da cidade. Qual não foi a minha surpresa, depois de dois meses caminhando sem rumo, me deparo com a floresta de Terbonese.

-O que é isso?

-É uma floresta virgem. Na verdade, ela não é virgem. É que quem entra dentro dela não pode mais sair. Portanto, as únicas pessoas que sabem de sua existência são as que vivem por lá. É muito densa a sua mata. Muito facilmente nos perdemos lá dentro. A maioria dos que, por acaso, vão parar lá, acabam vivendo pra sempre no meio das plantas e dos esquilos saltitantes.

-Interessante. E como conseguiu sair?

-Não consegui. Ainda estou lá. Não estou aqui na verdade, sou apenas uma ilusão, como um sonho seu. Meu desejo de sair de lá é tão grande que me personifico fora de meu corpo. Geralmente, mas não sempre, apareço muito longe da floresta. Que é o seu caso também, né?

-É, verdade. Mas não conte pra ninguém sobre isso! E como descobriu que eu também estou em Terbonese?

-Fácil. Terbonese fica nos fundos de sua casa. Idiota.
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Mas esqueçamos esse encontro ridículo. Essa história não é sobre esse encontro.
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Essa história é sobre uma mulher que foi ao supermercado fazer as compras e depois voltou.

Fim.

-Mas para onde ela voltou?
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NOTA EXPLICATIVA (à quem interessar)





Como muitas pessoas estão dizendo que não compreendem meus textos, achei que deveria esclarecer alguns pontos.



Gosto de escrever textos com o sentido em aberto. Que não tenham uma interpretação única e imediata. Muitas vezes, eu mesmo formulo uma interpretação do texto, mas esta não será a "versão" certa. Acho interessante quando o leitor vem com uma visão totalmente diferente da minha. Não estou dizendo que "sempre" formulo um interpretação, pois algumas vezes o que escrevo não quer dizer muita coisa mesmo, como em "Ela voltou para casa, ora bolas", e "Eu quero verde", ou tem sentidos possíveis de mais, a ponto de não me prender em nenhum deles, como no caso de "O Sol é o Sol". Isso, claro, também se aplica aos meus poemas.






Por exemplo, no meu último texto, "Eternamente Seu", a leitora Bruna F. disse entender que os dois personagens da história eram almas gêmeas, e que seus destinos era estarem juntos, sejam como marido e mulher, ou mãe e filho. Isso não era a minha interpretação inicial, embora, relendo o texto, pude notar que isso estava de certa forma contido na história. Já a leitora Hosana Lemos achou que o filho parido no final da história não era Horus, e este, que estaria em "algum outro lugar", realmente encontra e fala com sua mãe, dando assim um sentido bem interessante e diferente do que havia imaginado para o final da história.






Para quem quiser saber, a minha ideia nessa história é a seguinte: Horus perdeu a mãe muito cedo, e logo antes de morrer ela lhe diz que estarão juntos novamente, algum dia. Assim, acabou se casando com uma mulher muito parecida com sua mãe, tanto fisicamente, quanto emocionalmente, Clonérie. Ele consegue manter sua vida feliz e em equilíbrio dessa maneira. Até que certo dia, sua mãe o chama num sonho. Nesse sonho ele vê a mãe, e ao mesmo tempo sente a presença da esposa, o que quer dizer que ele está "misturando" as duas pessoas em apenas uma. A partir de então, sua vida entra em desequilíbrio. Ele passa a desejar a presença de sua mãe e ao mesmo tempo a enxerga em sua esposa. Nesse ponto do texto há um acontecimento, digamos, metafísico. Clonérie engravida de seu marido. Quero dizer, ela engravida com ele dentro de seu ventre, de forma que ela agora se torna a mãe de Horus. O que nada mais é do que a realização do que acontecia na cabeça de Horus, onde sua esposa e sua mãe ocupavam o mesmo lugar, o mesmo "posto", por falta de um termo melhor. Na verdade, no final do texto, Clonérie se torna apenas mãe de Horus, por ser algo mais forte, um laço mais forte que o de esposa. No fundo, isso era o que ele realmente queria, reencontrar sua mãe. E de certa forma foi o que aconteceu. Era isso que Horus era, "eternamente" de sua mãe. Após ser parido, Horus passa a ter sua vida em equilíbrio novamente.






Freud dizia que os homens querem fazer sexo com suas mães e assassinar seus pais, isso me influenciou também na escrita do texto. E gostaria de deixar claro que minha intenção não era fazer um conto de terror, como chegaram a me dizer. Horus não entrou fisicamente no ventre de Clonérie, e sim, figurativamente. Como num sonho. Poderia dizer que esse é um conto, de certa forma, onírico, pois seus acontecimentos não são justificados fisicamente, não são possíveis no mundo real.






Ouvi e li, algumas outras interpretações. Nenhuma delas está certa ou errada, são apenas pontos de vista diferentes, diria.

sábado, 13 de junho de 2009

Eternamente Seu

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Existe algo de estranho

De misterioso

Não sei bem o que é

Apenas sei

O que não é



.....Horus é um homem apaixonado. Apaixonado pela vida. Ama sua família, seus amigos. Ama seu emprego e seus deveres. É um homem que acredita que se deve amar, que esse é o sentido da vida. Dar amor ao mundo. Acha que o amor vai curar todas a mazelas e sofrimentos.
.....Ele caminha no parque ensolarado. Ouve o cantar dos passarinhos. Que júbilo é o viver! Sente a grama sob seus pés descalços. Entra em contato com a Mãe maior. A Mãe de todos. Essa pela qual é apaixonado: a Mãe Natureza.
.....Horus Fleursdein é casado com Clonérie. Uma linda mulher. Ruiva, de olhos grandes e expressivos. Corpo esbelto, e feições delicadas. Um bom senso de humor. E muito carinhosa. Assim como era sua mãe.
.....Eles se amam de forma intensa por longos cinco anos. Para eles foram apenas alguns segundos. Tudo que é bom passa rápido. Assim como a vida da mãe de Horus. Tébia morreu quando ele tinha apenas 6 anos. Nunca se esqueceu da última imagem de sua mãe, deitada na cama, segurando sua mão. Ela disse "que iriam se reencontrar, que ele devia esperar o dia em que estariam juntos novamente, unidos, como um".
.....Certo dia Horus acorda estranho. O canto dos passarinhos não é mais tão belo como fora um dia. Nem a vida tão cheia de amores.
.....-O que houve?
.....-Sonhei com minha mãe.
.....-E o que acontecia?
.....-Ela me chamava.
.....-Não ligue para esses sonhos, esqueça-os. Eles te fazem mal.
.....-Não. Dessa vez não parecia um sonho. Era muito real. Era como se ela realmente estivesse aqui conosco. Eu estava aqui mesmo, deitado em nossa cama. Ela me acordou, e falou baixo, para que você não acordasse... Não, na verdade, me lembrando melhor, você não estava na cama. Ela falava baixo, mas você não estava. Podia sentir sua presença mas não podia vê-la. Via apenas minha mãe.
.....Horus começa a se sentir mal, nos dias que se seguem. Não consegue trabalhar direito. Pensa muito em sua mãe. Ela domina seus pensamentos. Clonérie começa a ficar preocupada, pois seu marido a olha de um forma estranha. Seus olhos ainda brilham por ela, mas é um brilho diferente. É um brilho infantil.
.....Um belo dia, Horus some. Desaparece. Sem deixar rastros. Clonérie acorda e ainda sente o calor de seu marido na cama. À noite começa a se preocupar. No dia seguinte liga para a polícia. E para os parentes e amigos mais próximos. Ninguém sabe de nada. Ninguém sabe por onde anda Horus. "Será que fugiu com uma amante?", pensa. Não, não pode ser. Eram unidos demais para que isso acontecesse.
.....Após algumas semanas de sofrimento Clonérie desiste, e começa a se acostumar com a ideia de que não mais irá reencontrar seu marido. Ao mesmo tempo descobre que está grávida. "Mas eu estava tomando pílula!" ela diz ao seu médico. Clonérie resolve não abortar, afinal de contas, seu marido iria querer ter esse filho, que há muito planejavam.
.....A barriga de Clonérie ficou enorme. Imensa. Seu médico lhe disse que nunca havia visto algo igual. Era um menino. "Um meninão!", diziam,"grande como o pai!".
.....No nono mês a sua barriga está tão grande que mal consegue caminhar. Ela acaricia sua barriga, e conversa bastante com o bebê. Até que sua bolsa estoura. Sente fortes dores. Ela está sozinha em casa. Tenta alcançar o telefone, mas cai no chão. Grita, mas não é ouvida. Sua casa é muito grande e distante da dos vizinhos, que não a podem escutar. Tenta se levantar mas não consegue. Ela sente que ele está vindo. É agora.
.....Clonérie acorda. Sente muita dor, e percebe que seu bebê já foi parido. Abre os olhos. Ouve o belo canto dos pássaros. Consegue ver pela janela um belo dia ensolarado, como Horus tanto gostava. Ela se vira, e enxerga seu filho.
.....-Mãe, eu te amo - diz Horus .

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Amores Efêmeros 2

Gleube Manganésfero de Sá Pretextata era um menino estranho.

Quando bebê não chorava. E mamava muito pouco. Só ficava olhando pra cara da mãe.
Engatinhou até os 6 anos de idade. Quando ia na rua, as crianças ficavam olhando aquele meninão engatinhar no chão sujo.
Quando começou a caminhar não brincou com bonecos. Nem com bola de futebol. Não brincava. Nem tinha amigos. Só ficava olhando pro nada. Quando sua mãe perguntava o que tinha, ele dizia que não tinha nada, que estava tudo bem.

Ele achava que nada tinha graça. Nada o interessava muito. Nem comida, nem amigos, nem meninas, nem meninos, animais, parentes, esportes, livros, ideias, profissões, objetivos. Nada.

Quando Gleube completou 16 anos de idade, sua vida mudou. Estava caminhando na rua, olhando para o nada, quando passou por uma vitrine. Seus olhos não podiam acreditar no que estavam vendo: um iPod.

Aquilo era a coisa mais linda que havia visto em sua vida. Seu coração começou a bater mais rápido, começou a suar frio e ficou todo arrepiado. Nunca havia se sentido daquela maneira antes, aquele estava sendo o momento mais emocionante que havia vivido até então.

Um dos vendedores da loja notou que havia um menino na vitrine da loja, com a cara colada no vidro, meio que babando e com o olhar fixado no iPod. Há uns 15 minutos.

-Olá! Posso ajuda-lo?
-...
-Er, gostaria de entrar na loja? Posso te mostrar o iPod que está na vitrine.
-...

Os dois entraram. Gleube estava com as pernas tremendo e com as mãos geladas. Mal podia acreditar que iria colocar as mãos naquele objeto divino.

-Aqui está!

Gleube segurou o iPod. De perto, em suas mãos, era mais lindo ainda que na vitrine. E achou sua textura maravilhosa. Era maravilhoso. Era perfeito. Era tudo que havia esperado sua vida inteira.

Gleube comprou o iPod.

Sua mãe notou que Gleube estava agindo de maneira diferente. Estava sorrindo mais, estudando com mais atenção. Passava as tardes trancado no seu quarto, estudando. Mas não tinha a menor ideia do motivo desta mudança superficial. Ela não podia notar a grande mudança interna de Gleube.

Mas Gleube não estava estudando mais. Ele na verdade se trancava em seu quarto e passava a tarde inteira segurando o iPod, sentado na cama.

Passou a ter sonhos estranhos. Estava sempre com seu iPod, e estavam sempre sozinhos no mundo. E nos seus sonhos ele sempre fazia mesma coisa: ficava a admirar o iPod.

Sua mãe começou a ficar preocupada com Gleube, mais que o normal. Ele só ficava andando com aquele iPod, de um lado pro outro. E continuava sem namorada e sem amigos. Suas notas escolares chegaram e ele havia sido reprovado em todas as matérias.

-Gleube, o que há de errado? Será que não gostaria de ir num psicólogo? Seu comportamento tem sido estranho.
-Estranho? Não, não. Está tudo bem, não se preocupe.

Naquela noite, Ernesta ouviu sons estranhos vindo do quarto de Gleube. Ela se levantou e se esgueirou até o seu quarto. Olhou pela fechadura.

Não podia acreditar no que estava vendo. Gleube estava fazendo sexo com o iPod.
Não pode se conter, e entrou no quarto.

-Meu filho!! O que isso?? Você está trepando com o iPod?
-Trepando não, mãe. Estamos fazendo amor.