quinta-feira, 30 de julho de 2009

A Menstruação

A menstruação está toda caindo
Caindo em cima de mim
Está inundando o recinto
É como uma cachoeira de sangue

Abro minha boca
Engulo um pouco dessa sanguinolência

Me acendo
Me ascendo

Bebo o suco de menstruação
É gostoso
É nutritivo
Todo mundo devia beber
Eu o bebo todo mês
Da vagina da minha esposa
Quando a menstruação dela está descendo
Ponho minha boca lá e sugo cada gota

E depois disso

Solto a minha menstruação
Solto na cara das pessoas atônitas
Pelas ruas da cidade
Essa explosão vermelha
Que sai das minhas mãos
Dos meus pés
Dos meus olhos e ouvidos

E tudo que toco menstrua
Cada porta que abro
Cada pessoa cumprimento
O espelho do banheiro
Cada roupa que eu visto
A comida que eu como
O chão que eu piso

E depois disso

Todo o sangue
De todas as menstruações do mundo
Se juntam em um só
Se transmutam em uma grande massa vermelha

E todas as pessoas do mundo se juntam
E todos bebemos desse sangue
Para nascermos novamente

Dessa vez
Diferentes

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Atos Heroicos


Estou amarrado
Numa estaca de madeira

Fui condenado pelos meus atos
Mas não fui informado por quais

Vejo ao longe;
Os espancadores estão vindo

Eles trazem grandes porretes
Pesados e maciços

Eles sorriem e se abraçam
Também trazem nas mãos suas cervejas

Estão todos felizes
Irão fazer o que mais lhes dá prazer

Eles se aproximam
Jogam as latas vazia em mim

Agradecem a presença do público
E começam a me espancar

Batem com força no meu corpo
Seus porretes estraçalham minha carne

Quebram meus ossos a cada golpe
Expõem minhas entranhas

Eles batem e gritam
Sentem prazer em cada golpe

De tanto baterem
Já não sobra quase nada na estaca

Meus restos estão todos no chão
Formam uma massa disforme vermelha

Eles se viram para o público
São aplaudidos entusiasmadamente

Muitos fogos de artifício são soltos
Canções heroicas são executadas

É um momento de muita emoção
Até eu choraria se não estivesse morto

Então eles se lançam ao chão
E começam a devorar meus restos

Comem rapidamente
Como se eu pudesse ainda escapar

Seus rostos ficam vermelhos de sangue
Assim como suas roupas

Ao terminarem de comer-me, se viram para agradecer ao público
Que os acompanhou nesse ato heroico

Mas eles não se lembraram que comendo-me
Agora eu fazia parte deles

Havia um pouco de mim em cada um dos espancadores
Eles se tornaram um pouco eu

Alguém no público os lembra que agora eles também são Eu
E que eles carregam um pouco da minha condenação

O público avança em cima dos espancadores
E os estraçalha sem piedade

Chutam e socam
Arranham e arrancam
Furam e esmagam

Agora compreendo por que fui condenado

Foi por nunca ter sido um espectador



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Gostaria de agradacer à Desi (http://desirestreet.blogspot.com/), que fez esse desenho pro meu poema.
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Gostaria de chamar a atenção para o blog do Lionel Fischer, crítico e professor de teatro, que me incluiu nos destaques do primeiro semestre da temporada teatral de 2009, pela trilha sonora da peça O Silêncio dos Amantes, com texto de Lya Luft e direção de Moacyr Góes (é pra quem não sabe, eu sou pianista e compositor, o blog ainda não paga as minhas contas):
http://lionel-fischer.blogspot.com/2009/07/temporada-teatral-de-2009-destaques-do.html

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Amores Efêmeros 3

A pedidos, escrevi mais um texto para que a série "Amores Efêmeros" se tornasse uma trilogia.
As histórias dos 3 textos são independentes, não é preciso ler a primeira para ler a segunda, nem a segunda para ler a terceira, nem a terceira para ler a quarta, até por que a quarta história não existe (pelo menos ainda).
Aqui vão os links para as outras duas:
http://somesentido.blogspot.com/2009/05/amores-efemeros.html
http://somesentido.blogspot.com/2009/06/amores-efemeros-2.html


.



Karício morava no Rio das Águas de Março, uma cidade que abrigava o maior estádio de futebol do mundo, o Macarenã. Ele adorava futebol. Sempre que podia (ou mesmo quando não podia) ia assistir aos jogos da temporada.

Certo dia, depois de um belo gol do atacante Gagá, ele urrou de felicidade e abraçou a pessoa que estava ao seu lado. Quando se deu conta, viu que era uma bela mulher, Ralência, sua futura esposa. Ralência o proibiu de continuar indo a jogos de futebol, para evitar que abraçasse outras mulheres por lá. Como Karício a amava mais que futebol, não se importou.

A união de Karício e Ralência deu origem Tíbio. Um belo bebê. Aparentava ser um bebê normal.
Karício não pode assistir ao parto, pois, contra vontade de sua mulher, foi assistir à final do campeonato brasileiro para comemorar o nascimento de seu filho. Disse que teria a vida toda para estar com Tíbio, e que o jogo seria apenas naquele dia. É, faz sentido.

Alguns meses depois, Ralência ralou o joelho, que infeccionou de forma estranha. A infecção se espalhou por todo seu corpo e tiveram que sacrificá-la. Tíbio não ficou muito feliz com esse acontecimento, e nunca conseguiu se recuperar, emocionalmente, por completo.

Karício era um homem um tanto simples e de hábitos grosseiros. Cuidou de Tíbio da maneira que pode. Ia muitas vezes por semana a um prostíbulo perto de sua casa, e como não tinha dinheiro para pagar uma babá, levava Tíbio com ele.

Tíbio cresceu indo a este prostíbulo com muita frequência e quando tinha 2 anos de idade, sentiu pela primeira vez vontade de utilizar esses serviços.

Ele engatinhou até uma bela prostituta que ele já observava há alguns dias e disse:
"Vamos para o seu quarto. Quero brincar".
As prostitutas daquela casa de massagens já o conheciam e gostavam de brincar com Tíbio, mas desta vez, Tíbio queria uma brincadeira diferente.

Eles entraram no quarto da escolhida, Sleia.
"Tira a minha fralda". Sleia achou engraçado e obedeceu o comando. Quando retirou a frauda de Tíbio pode sentir um suave aroma de talco e não pode deixar de notar o pequenino pênis ereto.

"Haha, que bonitinho", pensou Sleia.
"Quero trepar", disse Tíbio.

-!?!?!?!?? Como assim??"
-Isso mesmo que você ouviu.
-Mas você é um bebê! Nunca tinha ouvido falar de bebês que querem fazer sexo.
-Sim, eu sou um bebê diferente, você sabe. Sempre vivi em puteiros, acho que já está na hora de eu começar a aprender sobre as coisas da vida.
-Mas o seu pintinho é muito pequeno ainda! Não da pra transar, tem que esperar alguns anos, pra ele ficar dum tamanho razoálvel.
-Não, importa, me satisfaça da maneira que puder.

Então Sleia satisfez Tíbio da maneira que pode, mas não iremos entrar em detalhes técnicos, por este não ser um texto de natureza pornográfica, ainda mais hoje em dia que a pedofilia é um assunto tão comentado e combatido na internet, não quero arriscar ter meus bens confiscados, minha liberdade de expressão suprimida, nem ter meus pensamentos monitorados por computadores biônicos que leem meus pensamentos, filtrando os que eles acharem necessários, e deixando passar apenas os que forem politicamente corretos.
Por isso cada um irá (ou não) utilizar sua imaginação para definir que tipos de atividades foram realizadas dentro daquele quarto de bordel. Talvez algumas pessoas se adiantem e digam que é óbvio, que como seu dito cujo era muito pequeno, ela o satisfez utilizando os dedos de seus membros superiores (é bom especificar, já que agrada a algumas pessoas o uso dos membros inferiores para fins diferentes que os de locomoção ou esportivos), ou então a sua cavidade oral, ou até mesmo da morada de suas glândulas mamárias, por que não?
Mas isso não é nada óbvio. Você se lembra da época que era bebê? Dos seus desejos? Seus anseios? Da sua sexualidade nessa tenra época de sua vida? Provavelmente não. Por isso, não podemos assumir o que Tíbio realmente esperava de Sleia. Que troca gostaria que realizassem juntos.
Mas se pudéssemos entrar na mente de um bebê, é possível que seu desejo fosse parecido com o que Tíbio pediu para Sleia.

Voltando à história:

-Não, importa, me satisfaça da maneira que puder - disse Tíbio.
-E como posso fazê-lo?
-Sinto falta de minha mãe. Muita falta. Sonho com ela todos os dias. Gostaria de poder sentir minha mãe de novo. Queria ter a sensação de tocá-la, e amá-la.
-Sinto muito, não sei como posso te ajudar nisso!
-Eu sei como.

Então Tíbio pediu que Sleia tirasse a roupa, e que abrisse as pernas, o máximo que pudesse.
Então, para a surpresa de Sleia, Tíbio engatinhou para dentro de sua vagina, como um animalzinho que entra em sua toca quente e confortável. E ele ficou ali durante uns 15 minutos. Curtindo o útero, aquela umidade, aquele calor e aquela sensação de ter voltado para casa.

Sleia estava um tanto surpresa com esse acontecimento, mas não se importou. Depois dos 15 minutos, Tíbio engatinhou para fora e lhe deu R$50.

-É isso que você cobra por 15 minutos, não é?

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O Caminho Mais Longo

Ontem voltei andando pra casa
Peguei o caminho mais longo
Queria poder pensar
Sair andando por aí
Como se estivesse atrás de alguma coisa
Como se fosse chegar em algum lugar diferente
Como se fosse encontrar alguém inesperado

Andar ajuda a esquecer
A preencher o vazio
Sentia um vazio
Uma distância das coisas
Andava para alcançar algo que não sabia o que era

Andei por muito tempo
Por muitos meses e anos
Passei por muitos lugares
Florestas, cidades, ruínas
Andei por lugares nunca antes andados

Passei por muitas eras
Por muitas mudanças climáticas
Por muitas maneiras de pensar
E de enxergar o mundo
Andei por cima do mar


Até que cheguei em casa.


E lá encontrei todo mundo
Todas as pessoas que eu conheço
E que ainda vou conhecer
Lá eu encontrei todas as pessoas do mundo
Todas as pessoas que existem estavam lá

Elas estavam todas me esperando
Há muitos anos
Elas sempre estiveram ali a me esperar
Me disseram que sempre estariam ali pra me receber
E que precisavam da minha companhia

Então todas as pessoas do mundo me abraçaram
Me colocaram em seus colos
E me amaram
Eternamente

quarta-feira, 1 de julho de 2009

A Tomada de um Império

Todo dia.
Todos os dias.
Sempre.
O tempo todo.
A cada instante.
A cada segundo.
A cada piscar de olhos.
A cada batida do coração.
Nunca.


Tive um sonho.
Eu estou em minha cama. Sou acordado por um outro eu. Ele diz que devo o acompanhar. Nós chegamos na sala de casa e minha mãe me diz que está cansada. Ela se deita no chão da sala e começa a fazer abdominais. Então, meu outro eu pula em cima de sua barriga, fazendo com que ela exploda e que voe gordura e carne pela sala.

Nesse momento meu pai chega e diz que é hora de almoçar. Ele e meu outro eu catam os restos de minha mãe. Meu pai coloca os restos numa panela e os cozinha. Eu lhe pergunto: "Mas nós vamos comer a carne de mamãe?", e ele responde: "Sim, porque nós a amamos". Nos sentamos à mesa e comemos a carne de minha mãe.

Meu pai se vira então para meu outro eu e diz que o ama. O outro eu se levanta e pula pela janela da sala. Meu pai diz que está muito orgulhoso de mim, por eu ter pulado. Ele levanta e caminha até o seu quarto. Deita em seu berço, que é bem pequeno pra ele. Ele diz que é indefeso e que precisa que cuidem dele.

Logo depois disso, vejo que ele se urinou. Interfono para o porteiro e digo que ele precisa vir limpar meu pai. O porteiro logo aparece, e com ele, vários repórteres de jornal. Eles tiram muitas fotos enquanto o porteiro limpa meu pai, e me dizem que aquela é uma cena muito bela. Eu lhes digo que estou muito feliz deles terem vindo. Eles ficam um tanto irritados com meu comentário, e dizem que fui grosso e mal educado, e que não estão acostumados a serem tratados dessa maneira.

Eles todos se retiram de nossa casa. Meu pai sai de seu berço e diz que está na hora dele trabalhar. Então ele pega uma marreta e começa a quebrar a parede de seu quarto, enquanto grita palavrões.

Resolvo sair para passear. Quando abro a porta, vejo que há alguém tomando conta da porta. Ele diz que não posso sair até que os trabalhos estejam terminados. Me viro e vejo que meu pai está nu, gritando, e pedindo que eu o mate. Ele me entrega a marreta e acerto sua cabeça com toda a força. O seu cérebro fica exposto. Enquanto ele ainda respira, pego um pouco de seu cérebro e lhe dou em sua boca. Ele diz que fui um bom filho, que está orgulhoso de mim. Depois que ele pára de respirar, o coloco em um saco negro e o jogo no lixo do prédio. O homem que tomava conta de minha porta me deixa passar.

Saio na rua. A rua está vazia. Ao longe, vejo uma passeata se aproximando. Eles gritam que querem fazer sexo. Eu me aproximo deles e digo que então façam. Uma bela menina diz que eles não podem, pois não tem mais órgãos sexuais. Lhe digo que isso é um absurdo, e ela me diz para olhar dentro de minha calça. Quando olho tomo um susto, pois percebo que não tenho mais o meu pênis, nem meus testículos.

Ela diz que os órgãos sexuais estão sendo confiscados pelo governo, e que a partir de agora, para fazer sexo, devemos pagar uma taxa mensal. Pagando essa taxa, recebemos um órgão sexual de nossa escolha. Após um mês, se não pagarmos outra vez, ficaremos sem sexo novamente. Fico muito indignado com aquilo e resolvo me juntar à passeata.

Caminhamos até o castelo onde mora o ditador que nos governa. Gritamos que nós temos o direito de nascença de ter um sexo, que não precisamos pagar por isso.

Meu pai aparece na sacada do castelo, com sua roupa negra de ditador.

Ele diz que não precisa de minha opinião, e que está pensando em confiscar nosso direito de pensar também. Para pensar, teremos que pagar um taxa. Caso não paguemos, teremos pensamentos escolhidos por ele implantados em nossa mente.

A multidão olha enfurecida pra mim, e diz que irá me assassinar se não fizer algo. Eu subo pelas paredes do castelo. Quando chego na sacada, luto com meu pai.

Ele se deixa vencer.

Tiro suas roupas de ditador e as visto em meu corpo.

O pego no meu colo e o coloco em seu pequeno berço, próximo à sacada.

Ele me diz:

-Agora está tudo bem, agora você sabe como me sinto.