domingo, 29 de agosto de 2010

O que você disse mesmo?

-Pra mim você é o oceano, te amo, minha deusa. Oh, minha guerreira da libido, minha vida! Meu amor!

Então exibi meu falo duro e lubrificado. Enfiei-o até sua garganta, largando minha porra onírica e caleidoscópica, construindo imagens de esperma no céu da cidade.

-Vamos, vamos todos fazer a Revolução Russa; nós, os soviéticos, vamos emparedar os inimigos, comê-los.

Começamos comendo seus cus, e depois suas bocetas aladas ornadas de diamantes negros que fariam sua tia velha ejacular. Mas por mais esdrúxulo que isso pareça, a ejaculação feminina é um fenômeno real.

-É, e é por isso que na minha lira de ódios fúteis muitas vezes não falo! Não. No hablo español. Hablo "piroquês".

E o falo grande e rijo entoou um poema sobre gozo e morte. E por fim, transaram até morrer.


***


Este texto foi criado em parceria com Flavia Doria e Álvaro Antunes, utilizando a tecnica surrealista conhecida como "exquisite corpse", na qual cada um dos participantes escreve por turno em uma folha de papel, a dobra para cobrir parte da escritura, e depois a passa ao seguinte participante para outra colaboração.








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domingo, 22 de agosto de 2010

domingo, 15 de agosto de 2010

Maria Cachalote

Maria Cachalote é atriz, modelo, cantora, apresentadora de tv
e é feia pra caralho.

É feia que dói.
É derformada; de tão disforme, é difícil dizer que Maria Cachalote seja uma pessoa, e não um bolo de carne que respira.
Mas tudo bem, seus fãs não se importam, nem a mídia, nem os fotógrafos.

Por que é assim mesmo.
É assim que as coisas são.

Não importa que ela seja feia e deformada, o que importa é o seu talento.
As pessoas não se importam com a beleza física de um artista - nem com seu cheiro; Maria Cachalote fede bastante, feito um cadáver apodrecido, só que ninguém nota pelas fotos e vídeos.
Mas mesmo que pudessem sentir esse cheiro, seus fãs iriam continuar gostando dela, pois só seu talento importa.

Seus fãs também não se importam que Maria dê vexames, defeque e vomite em público, distribua crack para crianças nas ruas, e faça apologia à bomba atômica brasileira.
Eles só querem saber de seu incrível talento.

Maria Cachalote é uma artista modelo.







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domingo, 8 de agosto de 2010

Observador

-Desci, passei pela portaria e já na rua caminhei pela Honório de Barros. Estava muito tarde, e frio também. Da esquina pude ver que a janela do quarto estava acesa. Fiquei a observar, imaginando o que ele estaria fazendo.

-Abri o arquivo do relatório, que deveria ser entregue na manhã seguinte. Precisava terminar ou teria grandes problemas com minha equipe. Voltei a escrever; após alguns instantes resolvi parar um pouco. Fui até a janela olhar a rua, distrair a cabeça. Achei curioso que havia um homem na esquina da rua, olhando para mim. Curioso não; estranho.

-Enquanto observava a luz de seu apartamento, ele me avistou; tentei disfarçar na hora, mas creio que não tenha adiantado muito. Notei que ele ficou olhando diretamente pra mim por alguns instantes. Virei-me para o outro lado da rua e fiquei fumando, como se estivesse esperando alguma coisa. Quem sabe eu estivesse.

-Por que será que às 4:30 da manhã havia um homem olhando para cá? Bom, imagino que minha janela talvez fosse única iluminada àquela hora, mas, mesmo assim, ele olhou com certo interesse e expectativa, creio eu. Resolvi apagar a luz do quarto e observá-lo do escuro.

-Após alguns instantes fumando, tornei a olhar para a direção de sua janela. Para a minha surpresa a luz havia se apagado. Imaginei que talvez o tivesse incomodado. Ou quem sabe tivesse ido dormir mesmo. Apaguei o cigarro e caminhei em direção ao prédio.

-Notei que ele voltou a me observar, e que dando pela minha ausência e a da luz do quarto, caminhou em minha direção. Fiquei um pouco com medo, embora não aparentasse ser alguém com más intenções. E alguém aparenta isso?

-Chegando na portaria abri o portão. Com cuidado, para não fazer muito barulho. Caminhei até o elevador e entrei.

-Me escondi num lugar difícil de achar, perto da porta da rua. Surpreender o observador. Ou apenas deixar a passagem livre para ele?

-Cheguei no apartamento e abri a porta. Estava escuro, nenhum som. Caminhei até o quarto mas não o encontrei. Havia um vento gelado.

-Notei que ele havia passado. Rapidamente, saí de meu esconderijo e me dirigi para fora do apartamento, fechando cuidadosamente a porta. Preferi pegar as escadas, pois o elevador faria barulho suficiente para que me notasse.

-Será que havia me notado? Parecia não haver ninguém no apartamento; onde teria se metido? Escondido talvez? Não, fui cauteloso demais. Ele não pode ter saído daqui. Acendi a luz do quarto antes de me sentar no computador.

-Desci, passei pela portaria e já na rua caminhei pela Honório de Barros. Estava muito tarde, e frio também. Da esquina pude ver que a janela do quarto estava acesa. Fiquei a observar, imaginando o que ele estaria fazendo.






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domingo, 1 de agosto de 2010

Diálogo Sem Dimensão e Representação

***


Num quarto vazio.


-Estou sentindo você.
-Sim, também estou sentido.
-Estou sentindo você bem perto.
-E eu estou sentindo você longe.
-Pertolonge.
-Longeperto.
-Nem tão perto de ser longe.
-Nem tão longe de ser perto.
-Estou em cima de você.
-Eu também estou em cima de você.
-E eu estou em todos os lados.
-E também no lado de dentro.
-E eu não estou aqui.
-Nem eu.
-Estou em qualquer lugar, menos aqui.
-Estou em todos os lugares, menos aqui.
-Nós estamos sempre juntos.
-E estamos sempre separados.
-Eu sou você.
-Sou qualquer um que não seja você.
-Eu não me sou, te sou.
-Sou tudo o que você não é.
-Penso que somos.
-Penso que não somos.
-Eu e você.
-Quem?


*


Em algum momento, antes ou depois do diálogo anterior (posterior?):

-Você já parou pra reparar que...
-Não, nunca reparei.
-É, nem eu.
-Acho que reparar não seria bem a palavra.
-É, a palavra seria...
-Acho que não existe uma palavra pra isso.
-Não?
-Não.
-E como poderemos falar sobre isso então?
-Não poderemos.
-Mas...
-Não se pode fazer nada em relação a isso.
-Nem...
-Não, nem isso.
-Você pode parar de me interromper?
-Por que?
-Você não me deixa completar as ideias.
-E você iria realmente falar alguma coisa?
-Não.


No lado de fora do quarto nada acontece.







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