domingo, 17 de abril de 2011

Um dia comum para Dante Alighieri

Dante Alighieri estava sentado em sua poltrona suja, ao lado de sua esposa Gemma Donati, que vestia roupas sujas, assim como Dante Alighieri, num ambiente sujo e fétido, repleto de restos de comida e lixo espalhados pelo chão, com seus filhos igualmente sujos e fétidos, e feios, assim como Dante Alighieri e Gemma Donati, que também estavam, além de vestidos com roupas sujas, com os corpos igualmente sujos, e fétidos, assim como seus filhos pequenos que rastejavam pelo chão da sala, esfregando seus corpos pequenos e frágeis, e fétidos, usando fraldas, que não eram trocadas há vários dias, repletas de fezes, de forma que as fezes, e o mijo, havia muito mijo também, escorriam pelos lados da fralda, se juntando com os resto do lixo da sala, formando meio que uma lama, uma lama de lixo, restos de comida, mijo e fezes, e que fazia Dante Alighieri e Gemma Donati escorregarem às vezes quando tentavam andar, fazendo-os se estatelarem no chão, batendo suas cabeças contra o assoalho sujo e fétido, enchendo seus cabelos com a lama putrefata; algumas vezes acertavam algum de seus filhos nessas quedas, fazendo seus pequenos corpos de bebê se estraçalharem em milhares de pedaços que coloriam as paredes, mas eles nem ligavam muito, eram muitos bebês, não fazia diferença se um ou outro morresse esmagado, era até melhor, menos um pra contribuir com a lama de imundice que recobria o assoalho, e no final das contas, no final do dia, quando tentavam contar os bebês, nunca obtinham o mesmo número de filhos do dia anterior, afinal, eles não ficavam quietos, estavam sempre correndo ou engatinhando pela casa, sem contar com os filhos dos vizinhos, que praticamente moravam ali, fazendo Dante Alighieri e Gemma Donati se questionarem se determinada criança seria ou não um filho deles; e os vizinhos entravam na casa de Dante Alighieri e Gemma Donati perguntando por seus filhos, "Onde está meu filho?", "Está por aí", respondia Dante Alighieri, "é algum desses, pode escolher, tanto faz", então o vizinho se enfurecia e partia para cima de Dante Alighieri, gritando que ele havia perdido seu querido filho, então ficavam Dante Alighieri e o vizinho, cada um com as mãos no pescoço do outro, rolando pelo assoalho sujo da sala, enquanto Gemma Donati ficava golpeando a cabeça do vizinho com os grandes livros de poesia de Dante Alighieri, gritando seus versos para lhe confundir os sentidos, até que conseguiam matá-lo, e jogavam seu corpo num canto sujo da sala, até que vinha a esposa do vizinho, dizendo que seu marido sumira, e que fora visto entrando na casa de Dante Alighieri e Gemma Donati, até que ela via o corpo do marido no chão, envolto em lixo, restos de comida, mijo e fezes, e ela começava a gritar, mas antes que pudesse fazer algo, Gemma Donati a acertava com os volumes da Divina Comédia, fazendo a vizinha cair no chão chão sujo, esmagando algum bebê, que poderia, ou não, ser filho dela, então Gemma Donati gritava, "Crianças, hora da janta", e os bebês vinham correndo e começavam a mordiscar a carne da vizinha, ainda viva, mas logo restavam apenas seus ossos, espalhado pelo chão, era mais ou menos assim um dia comum na vida de Dante Alighieri.


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Conto escrito para o Clube da Leitura; postado originalmente aqui.

18 comentários:

Do Gato e a Torrada disse...

Lembra bastante a natureza; viva o natural!

Antônio LaCarne disse...

muito interessante esse conto. a vida, o ser humano, sujo e fétido.

Wanderley Elian Lima disse...

Fantástico. Surreal. Amei.
Bjux

Mente Hiperativa disse...

De fato ele levava uma vida normal, repleta de dias normais, como os meus e os seus... rssrsrs

Mente Hiperativa disse...

Rapaz so hj eu vim perceber a tal lista de top comentaristas.... Gostei da ideia, vou plagiar pra ver se aumentam os comentarios kkkkkkkkkkkkkkk

Nada se cria, tudo se copia neh nao?

Abraço e sucesso cara.

Vital disse...

caralho que do caralho!

Unknown disse...

Surreal mesmo... ainda vc tem q passar como escreve esses textos....

abraços

Elton Alves do Nascimento disse...

Era uma vida muito feliz.

Átila Goyaz disse...

Sensacional...
(comentando só pra nao perder o costume) rsrs

Maria Auxiliadora de Oliveira Amapola disse...

Boa tarde, querido amigo Rafael.

Parece filme de terror.

Um grande abraço.
Tenha uma linda semana.

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Rafael.
Adorei sua visita.
Bjux

Paulo Vitor Cruz, ele mesmo disse...

saudades do teu blog, cara...


abraço grande e bom domingo aí.

José Sousa disse...

Oi amigo!
Adorei este seu texto, muito bom mesmo! E obrigado por existir na blogosfera com seu belo blog.

Vá até o meu novo blogue em:

transpondo-barreiras.blogspot.com

Um abraço grande

alineaimee disse...

Absurdo e vertiginoso.
Gostei.

Juliana Porto disse...

Bravo!

Beijos, menino.

Homerix disse...

O que mais dizer???!!!

Israel Silva disse...

Ótimo cara! Gosto muito do que você escreve. Existe um grupo de artistas que está começando um movimento "vanguardista". Vamos manter em contato!

p.s.: http://pensassonhos.blogspot.com

Rafael disse...

Esse é legal.