***
Num quarto vazio.
-Estou sentindo você.
-Sim, também estou sentido.
-Estou sentindo você bem perto.
-E eu estou sentindo você longe.
-Pertolonge.
-Longeperto.
-Nem tão perto de ser longe.
-Nem tão longe de ser perto.
-Estou em cima de você.
-Eu também estou em cima de você.
-E eu estou em todos os lados.
-E também no lado de dentro.
-E eu não estou aqui.
-Nem eu.
-Estou em qualquer lugar, menos aqui.
-Estou em todos os lugares, menos aqui.
-Nós estamos sempre juntos.
-E estamos sempre separados.
-Eu sou você.
-Sou qualquer um que não seja você.
-Eu não me sou, te sou.
-Sou tudo o que você não é.
-Penso que somos.
-Penso que não somos.
-Eu e você.
-Quem?
*
Em algum momento, antes ou depois do diálogo anterior (posterior?):
-Você já parou pra reparar que...
-Não, nunca reparei.
-É, nem eu.
-Acho que reparar não seria bem a palavra.
-É, a palavra seria...
-Acho que não existe uma palavra pra isso.
-Não?
-Não.
-E como poderemos falar sobre isso então?
-Não poderemos.
-Mas...
-Não se pode fazer nada em relação a isso.
-Nem...
-Não, nem isso.
-Você pode parar de me interromper?
-Por que?
-Você não me deixa completar as ideias.
-E você iria realmente falar alguma coisa?
-Não.
No lado de fora do quarto nada acontece.
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Vejam no Desce Mais Um:
http://descemaisum.blogspot.com/2010/08/amor-profundo.html
Amor Profundo
Por que os amores são assuntos públicos
domingo, 1 de agosto de 2010
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27 comentários:
Gostei do monólogo!
Abraços!
Cara, muito maneiro esse diálogo!
Engraçado que imaginei a cena filmada... o que torna tudo ainda mais bizarro!
Rafael, parabéns, sempre que entro aqui sou surpreendido positivamente, aprecio sua originalidade!
Abraços!! :)
Me lembrou a Planolândia, de um vídeo BEM tosco que meu professor de Física passou na aula sabe Deus porquê...
Beijo
Rafa!
Eu acho que escolhi o momento mais oportuno para escrever o Negrobranco. Porque daí, eu entrei aqui pra divulgar, e, surpresa! Você me escreve um texto de oposição e contraste, por sinal, genial, como tudo o que você escreve ou deixa de escrever.
Sabe, isso é o maldito destino que insiste em ser contrarregra de si mesmo. Não posso dizer que não amo essas coincidências. Amo, vá. Mas prefiro fingir que não.
Espia lá o Negrobranco.
http://myowntaylorishbattle.blogspot.com/2010/08/negrobranco.html
Abraços sem dimensão.
Então. Esse é daqueles que não entra na estética do tosco.
Você com certeza pensava em abacate quando escrevia mas o resultado é bem reflexivo.
solilóquio,
abraço
é.
ahhh eu adorei!
eu sou assim, não acabo um assunto e no meio do assunto não acho palavras pra dizer, ai me calo, é melhor! rsrs
Beijooo :*
uma pessoa disse que imaginou a cena filmada... como???
Legal o texto!
Muito monólogo esse monólogo.
Enfim, sempre adorei seus textos. Apesar de não vir aqui a um bom tempo. com certeza vou votar.
"No lado de fora do quarto nada acontece." Tô numa fase assim. Concordo com o pessoal, ficou muito bom! Mas é um monólogo ou um diálogo?
Ah rapaz e quanto ao selo, pra mim é só uma forma de mostrar o que gosto de ler, claro que não fico chateado por vc não colocar no blog.
Abração!
dimensão? quem precisa, dela...?... risas...
curti bastante os diálogos - ou monólogos, como comentado acima...- no presente momento penso q todos os diálogos da humanidade são dotados de ausência de sentido e q a comunicação deveria ser revista urgentemente..
*q venha o próximo minuto pra q minha loucura diminua...
abraço grande.
p.s.: qto ao meu blog, o lado orgânico já foi decomposto e está sendo convertido pelo solo em uma nova coisa qualquer... (excremento?)
o ponto é o quarto.
o ponto é o quarto.
Oi Rafael,
agradeço o carinho de sua visita e comentário em meu blog de poesias. Um abraço.
Contradições.
"-Nós estamos sempre juntos.
-E estamos sempre separados."
Adorei!
Adoreiii...
Mto bom... Parabéns!
BJuss!
parece com os dialogos que sempre temos mesmo,
parece com a eterna interrupção
e o eterno incompleto que a linguagem deixa em frestas inconcluído.
abraço, tomo a liberdade de seguir o blog.
"Eu não me sou, te sou."
Muito bom! Ah, e porca relaxada é apenas um xingamento carinhoso...
Beijo
Poizé, o filme é muito bom, vale a pena assistir. Adorei o diálogo, é tão completo e ao mesmo tempo tão incompleto, repleto de reticências... e intimista.
ah ok, já te adicionei no msn.
beijs
Sim, pode contar comigo porque gosto do jeito que você escreve. Você vai longe! Não pare. Abraço
mas que química!
tenho desses monólogos
frequentemente
as vezes me odeio por falar tanto
queria que eu ficasse calado pra eu poder me ouvir um pouco
qta intensidade!
ah, eu detesto não entender as coisas :/
Palavra. Palavra. Palavra.
Ideia. Ideia. Ideia.
Bem isso.
:*
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