-Desci, passei pela portaria e já na rua caminhei pela Honório de Barros. Estava muito tarde, e frio também. Da esquina pude ver que a janela do quarto estava acesa. Fiquei a observar, imaginando o que ele estaria fazendo.
-Abri o arquivo do relatório, que deveria ser entregue na manhã seguinte. Precisava terminar ou teria grandes problemas com minha equipe. Voltei a escrever; após alguns instantes resolvi parar um pouco. Fui até a janela olhar a rua, distrair a cabeça. Achei curioso que havia um homem na esquina da rua, olhando para mim. Curioso não; estranho.
-Enquanto observava a luz de seu apartamento, ele me avistou; tentei disfarçar na hora, mas creio que não tenha adiantado muito. Notei que ele ficou olhando diretamente pra mim por alguns instantes. Virei-me para o outro lado da rua e fiquei fumando, como se estivesse esperando alguma coisa. Quem sabe eu estivesse.
-Por que será que às 4:30 da manhã havia um homem olhando para cá? Bom, imagino que minha janela talvez fosse única iluminada àquela hora, mas, mesmo assim, ele olhou com certo interesse e expectativa, creio eu. Resolvi apagar a luz do quarto e observá-lo do escuro.
-Após alguns instantes fumando, tornei a olhar para a direção de sua janela. Para a minha surpresa a luz havia se apagado. Imaginei que talvez o tivesse incomodado. Ou quem sabe tivesse ido dormir mesmo. Apaguei o cigarro e caminhei em direção ao prédio.
-Notei que ele voltou a me observar, e que dando pela minha ausência e a da luz do quarto, caminhou em minha direção. Fiquei um pouco com medo, embora não aparentasse ser alguém com más intenções. E alguém aparenta isso?
-Chegando na portaria abri o portão. Com cuidado, para não fazer muito barulho. Caminhei até o elevador e entrei.
-Me escondi num lugar difícil de achar, perto da porta da rua. Surpreender o observador. Ou apenas deixar a passagem livre para ele?
-Cheguei no apartamento e abri a porta. Estava escuro, nenhum som. Caminhei até o quarto mas não o encontrei. Havia um vento gelado.
-Notei que ele havia passado. Rapidamente, saí de meu esconderijo e me dirigi para fora do apartamento, fechando cuidadosamente a porta. Preferi pegar as escadas, pois o elevador faria barulho suficiente para que me notasse.
-Será que havia me notado? Parecia não haver ninguém no apartamento; onde teria se metido? Escondido talvez? Não, fui cauteloso demais. Ele não pode ter saído daqui. Acendi a luz do quarto antes de me sentar no computador.
-Desci, passei pela portaria e já na rua caminhei pela Honório de Barros. Estava muito tarde, e frio também. Da esquina pude ver que a janela do quarto estava acesa. Fiquei a observar, imaginando o que ele estaria fazendo.
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Amor Profundo
Por que os amores são assuntos públicos
domingo, 8 de agosto de 2010
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25 comentários:
me deu medo e vontade de saber o q era tbm.. isso, além de uma boa ideia pra proxima noite em claro: "n deixar a luz acessa."
*feliz dia dos pais..
abraço grande.
Os bons ventos me sopraram até aqui.
Parabéns pelo teu espaço!
Abraço
Bem legal Rafael, merece uma continuação! Ainda há muitas coisas paraa se explicar.
Abraço!
ahha, esse me arrancou um sorriso aqui. Putamerda, foi foda.
Aliás, esse pode render algumas boas conversas "filosóficas" heein! aha.
Abraço!
PS: legal é ver essa galera que, pelo jeito, visitou teu blog pela primeira vez e acha que você vai explicar alguma coisa, ehhe
explicar??????
poesia é um negócio com as palavras,
quanto menos razão melhor
poesia é para incorporar
vc é fodástico querido Rafael ... prefiro sempre a luz apagada ...
bjux
;-)
Nossa, cara, muito bom. Bem construído e tal.
Gostei, mesmo!
Digno!
Me confundiu um pouco.hauhauahuahuahau
ciclos
O bom de ser o leitor, aqui, é poder estar nas duas janelas, nos dois lados da rua, ver tudo e só acender a luz se quiser...
Abraços e ótima semana!
Moni
Rafa, muito muito muito legal.
O texto é meu Oroborus literário!
haha. que ótimoo o texto. Adoro essas histórias circulares..
Mas afinal, o que ele estaria fazendo mesmo?
Diálogo em monólogo (eu falando com meu-eu ou repassando para outro alguém, independentemente da ordem), suspense entre janelas e luzes (fumaça de cigarro)... Último parágrafo idêntico ao primeiro... cíclico e intenso.
você é bom :)
Abs!
Haha no meio do caminho imaginei que acabaria assim... XD
Muito bom, Rafa. Fantástico!!
Na verdade ele estava me observando linda, deitada na cama.. Uahuahuha.
=**
Rafaaa, to tão sumida, mas é tanta coisa acontecendo, correria, estágio novo, fim do outro emprego, dinheiro, gasto, dengue, gripe, azia e vomitos. Mas to voltando e tava com saudade de rir aqui contigo.
Beijos
Se disser que esse texto é intenso, seria mais um de meus comentários redundantes.
Apago a luz e voilá.
Beijos, querido!
Arrebentou a boca do balão, cara!!!!
Intenso foi pouco, muito pouco.
Beijo
O que será que esse estranho queria no apartamento?
Duvida cruel...
Eu gostei, sou meio suspeita pra falar isso mais gostei mesmo.
Beijos
Muito curioso isso!
e curiosa estou eu agora hahahah
adoreeii demais!!!
Beijoo :*
Olhos que - dentro ou fora da mente - espreitam, perseguem, assustam. Este é um daqueles textos, Rafael, que eu te digo que consigo ler do começo ao fim e do fim ao começo e em ambos os sentidos, o texto flui.
Lembrou-me um dos primeiros textos que li aqui. Acho que esta é uma das características de tua escrita: Mão e contra-mão.
Muito bom!
P.S.
Sobre a tua pergunta:
Não fechei o blog, apenas estou imprimindo outro ritmo. É o que posso nesse momento.
Grande abraço.
Estou passando,e deixando um grande beijo,e dias claros como o Sol,desculpe-me a ausência/
Boas energias,
Mari
nossa, cheguei a ficar tonto... rsrs!
Pensei já ter comentado antes! Belo conto! Um verdadeiro desencontro consigo mesmo. Abraço
PS: Os Pinguins são do Aquário Municipal de Santos
Que massa, Rafael!
Esse conto estilo "boneca russa" com um toque de suspense, muito legal!
Abração!!
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